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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A Voz

Não chega a ser Inferno.
Paraíso, nem pensar.
Mas salta as raias do purgatório
– e a imagem é muito amena.
Imagine amar alguém des-esperando,
porque não é racional esperar,
não é possível nem viável, não é inteligente,
porque não tem concerto nem nunca terá
porque não faz sentido.
Imagine ter vergonha desse amor,
e quase sempre orgulhar-se dele,
mas às vezes enojar-se, até que a náusea
se transforme no mais abjeto pernicioso deletério Asco.

E no meio da noite sentir que a mão pesada do Nojo
detém o curso da Ternura, antes que ela sulque a face
e deslágrime na ponta do queixo, ou adentre o Olvido.
Na primeira réstia de luz, saber que aí vem
mais uma golfada de espaço-tempo
goela abaixo, e ao poucos nos afoga uma maré
de Nada e Nunca, pra Sempre.
Ao pé de tudo, a Vida corre - ou rasteja?

Besteira. Se há quem faça disso poesia, não serei eu.
Tentava distrair a mente, o corpo, a alma,
cada pedacinho de mim tentava desviar dessa agonia,
o cilício de veludo que é o Silêncio.
O meu silêncio, a assustadora, lancinante presença
de todos todos todos os sons que me cercam,
psicodelicamente.
Um silêncio cujo zumbido surdo e intermitente
oprime,angustia, atordoa.

Respondi e-mails, conversei no MSN.
Fiz um lanche. De repente o telefone.
Voz querida, bem-vinda, oportuna.
Mas não a "minha" voz.

Aí caiu a ficha. Esse silêncio que esmaga.
Essa urgência de viver, a angústia de não morrer.
A desimportancia e inutilidade de tudo.
É que me falta A VOZ.

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