Não é paisagem o que recobre os campos,
Mas o tempo,
Que tudo enfeita, matiza, traduz.
Não é saudade o que oprime o peito,
Mas o tempo,
Que nos ironiza, espreita, seduz.
Não é o tempo do Eclesiastes,
Em que pra tudo há o momento azado,
O fio condutor da vida;
Não é o tempo da ciência,
Milimetricamente cronometrado,
Nem o tempo da fé, cega ou amolada
Nem portal de boas-vindas
Nem ruela sem saída.
Esse meu tempo é uma sala escura
Só com o lado de dentro
E janelas emperradas.
A paisagem lá fora é uma sucessão
De corredores iluminados
Por luzeiros hesitantes: o amigo
Que pensamos ter,
O amor que ousamos perder,
A morte que sonhamos merecer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente