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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011


Em noites de chuva
Componho em místico vagar

O memorial da minha dor preferida
Um poema interior, 
uma canção de ninar
Que adorne a solidão, sare a ferida.

Uma canção com cheiro de acalanto
Pra minha alma em chaga aberta
Pois a chuva é também um pranto
Que o céu verte na rua deserta.
Em noites de chuva
Refaço no peito antigos caminhos
Trilhados antes com sua mão na minha
Sigo atalhos, desvios, veredas
Mas desta vez vou sozinha.
Gosto de pensar que chuva assim
Encharcando o mundo nessa hora
Como se fora o céu grande goteira
É o meu amor que tanto chora
A saudade de mim.
E se vem um leve estio, nalgum momento,
É que ele soluça, noite adentro,
E abriga do frio
A saudade de mim.
Poema antigo de terna memória
- Uma canção de ancestral estribilho
Derrama a chuva sobre a nossa história -
E ele é meu par, meu amigo, meu filho.

Meu Beatle predileto

Ringo Star, 4 meses

Até agora, não parece que tem cão em casa. Acho que veio mesmo do Tibet, como seu primo Lhasa Apso. Meu filho disse que ele é "zen". Pra mim, é praticamente um monge.
Estou estranhando o comportamento do Ringo porque a Nina (Cocker  + perdigueiro) era um dínamo. Latia pouco, mas não parava um instante, e tinha a desagradável mania de mordiscar os calcanhares de todo mundo.
Ringo é um Shih Tzu, e esse cão tem fama de ser brincalhão, nada agressivo, mas difícil de adestrar. Não parece ter o ser humano em altíssima conta, como os cães em geral.  Mal chegou, devorou uma medida de ração, bebeu muita água mineral quase gelada. Vistoriou a casa toda, fuçou cada recanto, mas não saiu marcando território com xixi, como eu esperava - e temia.
Passeou como um lorde pra lá e pra cá, abanando a cauda suavemente, com um ar de "é... tá bonzinho esse lugar, podia ser pior". Depois fez um cocô muito elegante na porta da frente. Eu fechei a cara na hora, disse não! sem gritar mas com firmeza; botei ele em cima do papel onde deve fazer de hoje em diante. Me olhou com cara de "ô mulher enjoada" me deu solenemente as costas, e esparramou-se na pedra fria do quintal, entre as mini roseiras e hortelãs, e passou uma meia hora olhando pro Nada, com cara de enfado. Nem aí pra mim. Adorei.
Mas todos estranham, e insistem em dizer: esse cachorrinho deve estar doente, ainda não latiu e é quieto demais. Fui tomar banho e ele ficou olhando da porta do banheiro, impassível. De vez em quando erguia as orelhas, atento a algum barulho lá fora. Agora cochila esticado no chão, na frente do ventilador, a cara enfiada entre as patas dianteiras. A caminha ele não quis. Mas eu entendo, tá um calor dos diabos, embora a janela aberta, o Nin, a buganvília amenizem. E o piso do meu quarto é um mosaico que deve ter vindo com Tomé de Sousa numa caravela, está limpo, seco e frio, uma delícia. Até eu queria deitar nele agora. O olhar confiante e amistoso desse anjo de quatro patas me lembra uma frase que li não sei onde nem quando: infeliz o homem que não tem sequer o amor de um cão. Bom: se depender disso, até que não estou mal.

Ancoradouro

Amado irmão e amigo,

Sim, chegamos. Mas não à Infelicidade, que
nem mesmo o sinistro Barqueiro conduz a ela, se também ousamos remar.
Chegamos ao fictício ancoradouro das nossas angustias.
Eu e tu, e nossos amigos, cada um ao seu modo, no seu Possível Cais.

A mim não me soam antipáticos os "infelizes" - quem serão? Só sei que é sempre bom estar entre os meus pares. Melhor ainda compreender que ser feliz não é minha obrigação, desde que não nasci com ferramentas adequadas.

Procuro administrar perdas e danos, ao longo do percurso - que não sei quando começou, nem quando, como e se vai terminar - espero sinceramente que sim. A eternidade é uma perspectiva nada agradável. Prefiro ser infeliz com data marcada pra não ser mais.

Noite de Natal com amigos, luxo que há muito não me dava. Ringo Shih Tzu foi cãovidado especial, ao lado de Julie Pinscher, e esses dois anjinhos sem asas é que deram o espirito amoroso da festa. Virada de ano chez Monsieur G., em petit commité: eu, ele e o bebê; o clã Saraiva; os Azevedo e meu amigo clown. Amenidades.

Hoje eu deveria estar no aniversario de 18 anos da Iasmyne, Mme Szasz deve estar me esperando até agora. Não tive ânimo. Nada mais cansativo que ser sociável quando tudo que se quer é afagar a cabeça do cachorro, e ouvir musica bem baixinho. Tem dias de Paganini, tem dias de Tchaikovsky, Roberto Carlos. Mas hoje eu queria me sentir na varanda da Fazenda Juruá, dose
de cachaça, cordeiro na brasa. Então o fundo musical tinha que ser Forró de raiz - raiz de mandacaru, árida como a minha alma.

Não apenas perco muito, como nenhum proveito tiro dessa distância, e saiba que tua companhia sempre foi um bálsamo. Mesmo quando te quedavas mudo, mirando o Nada. Talvez até principalmente
nesses momentos. Saudade, diz o poeta, amarga que nem jiló. É uma das melhores comparações que conheço. Não tem jeito, o sertão é parte de mim. Não o das grandes veredas, mas o das trilhas estreitas, do sol perverso, dos rios secos.O sertão dos amigos que vão embora - uns por morte, outros por perseguir a vida.

Acho que não chegamos não. Talvez nunca cheguemos a essa Paz que ansiamos. Enquanto ela não aparece... não custa nada amar e sentir saudade - é tudo o que temos, mas não é pouco.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Eu sei que ele existe

Eu sei que Ele existe.
Silente - em algum lugar
Oculta Sua vida preciosa
Ao nosso rude olhar.

Brincadeira de esconder,
Uma doce emboscada
Só para surpreender
Na gloria almejada.

Mas se prova o brinquedo
ter perfurante corte
e  enrigece a alegria
ante o duro olhar da morte,

Não sai caro demais
este motejo?
Não vai longe demais
Esse gracejo?

Emily Dickinson

Em plena Ditadura

Era uma vez uma sócia do Recreio Clube de Campo, aos 13 anos.
Aaff! Tem cada coisa nas minhas caixas de papelão...rs

sábado, 15 de janeiro de 2011

Pensando Alto

Para todo lado, muro

Pra cima, céu escuro

Pra baixo, poço fundo

À frente, caminho estreito

Atrás – ê mundo! – não tem mais jeito.