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quinta-feira, 15 de julho de 2010

Palavras

É um auto-retrato
O que esboçamos pela vida
- Na tela áspera da vida -

Alguns com argila
Outros com pincéis e tintas
Sulcando a pedra ou ferindo a madeira,
Desgastando o ouro, fundindo outros metais,
Vão esculpindo a própria mente.

Eu colho palavras ao vento,
E as peneiro escolho viro e reviro contra a luz,
Aperto-as contra o peito, ergo-as sobre a cabeça,
Embalo-me em sua sonoridade
Ritmo canto de sereia.

Há umas de que aparo arestas e modelo,
Desgasto afago limo firo sofro e suo,
Como o monge bilaquiano.

Muitas já me chegam deturpadas
Ou vazias de sentido.
Outras, preciosas de alta linhagem, plenas
Do que preciso dizer.
Umas poderosas outras frágeis
Impotentes na expressão
Do pensar ou do sentir.
Mas sempre erradias viscosas
Inefáveis voláteis como a Idéia.

Infeliz de quem acredita
Ter sobre elas o mínimo poder,
Há de ser sempre humilhado.
Pensamos ter-lhes captado a alma
E eis que mostram outras facetas,
E aparecem novas, absolutamente inusitadas,
E nos sorriem, cínicas: ou nós as digerimos
Ou elas nos devoram.

Palavras são o meu pincel
e as tintas, e a paleta.
É todo de marmóreas palavras
O meu Partenon interior, hoje em ruínas.
Trago uma coroa de palavras
Encravadas na fronte,
E no meu rosto escorrem reticências
Que coagulam.

Minha língua é o cinzel
Que jamais engendrará um beijo de museu.
Mas as mãos sussurram, e os olhos silenciam,
Eloqüentes, toda palavra útil.

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