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quarta-feira, 14 de julho de 2010

A Edgar Allan Poe

Por trás do muro e da hera
Moramos os sozinhos
E em nosso peito assombrado
Uma viúva-negra tece os dias.

A noite acolhe percevejos
E na sanefa embolorada
Os cupins preparam bodas
Mas não somos convidados.

Um morcego solitário é companhia
Dos ratos, nos porões
Das nossas mentes emperradas.

As traças, solidárias,
Se empanturram de filosofias
Ao pé de hipotética lareira
E na janela surgem mãos
Encarquilhadas

Sequiosas do marfim
Que nos legou avô desconhecido,
As pálpebras nervosas tremem
E as nossas almas putrefeitas
Vão bordar Chopin nas teclas frias.

Brisa amena varre o pátio
Dos pressentimentos
E as sacadas do passado
Encolhem-se de medo.

Crispando as mãos e a vida
Cachos nervosos tricotamos
Nas imaginárias cãs
E as dobras do tafetá vestido
Sem pressa compomos.

Mas já não brilha a prataria
O bule de chá dorme esfriando
E o encanamento range
Nas poucas lembranças.

A noite desce sobre o dia escuro
E tudo o que nos resta
É esse cansaço de não-mais
De nunca mais.

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