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terça-feira, 7 de setembro de 2010

Co-Incidência
Parte 2

-   Sim, pois é, o estuprador. A senhora.. rhan-rhan... senhorita portava alguma arma... 
   um canivete, ou coisa parecida?
-   O senhor está me chamando de... de...!?
-   Absolutamente, moça, de jeito nenhum. Só estou cumprindo as formalidades, 
   é o meu trabalho. Alguma arma?
-   Não. Tenho medo de armas – empertigou-se.
-   Ah, bom, tem medo de armas. Mas de andar sozinha, de madrugada, 
   na... na orla marítima – enfatiza com malícia a expressão – com...essa roupa...
-   O que é que tem a minha roupa?! Bota as mãos nos quadris, 
   sacudindo-se toda, exibindo a minissaia de couro preto, 
   a blusa colante de decote generoso, os enormes saltos.
-   Não tem medo...
-   E daí?  Só porque eu vejo um cara bonito com pouca roupa vou atacar ele? 
   O senhor tá querendo dizer que a culpa é minha, se o cara quis me estuprar? 
   Era só o que me faltava!
-   Mas será possível, minha senhora?! Tenha calma, eu só estou fazendo o meu ...
-   O seu trabalho, o senhor já disse; muito mal feito, por sinal. 
   A essa altura, já devia era ter uma pista do cara. Eu dei todas as dicas importantes.
   Queria ver se fosse com filha sua.
-   Filha-minha-não-anda-sozinha-de-madrugada-na-praia-com-uma-roupa-dessas! 
   Vocifera o policial, num fôlego só.
- Ora...! Sabe de uma coisa? Não quero mais dar queixa coisíssima nenhuma! 
  Ele não conseguiu nada mesmo. Só vim dizer pra polícia saber que tem um tarado por aquelas bandas. Mas se é pra ser humilhada desse jeito... a polícia que se dane.. humpf!   Teatralmente, jogando para trás os longos cabelos tingidos, a moça repõe a bolsa a tiracolo e se dirige à saída. Na pressa, esbarra num rapaz de presumíveis dezesseis anos, tipo atlético, que entrava como um vendaval na delegacia. A bolsa se abre, esparramando pelo chão um monte de objetos.
 
  A moça solta um palavrão e passa a catar pela sala chaveiro, batom, fivelas, carteira de couro, minifrasco de perfume. Ao erguer os olhos, dá de cara com um rosto familiar: o do estuprador de duas noites atrás.
-   Me dá uma graninha aí, véi, que eu alisei.
                                                            

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